quarta-feira, 4 de julho de 2012

Incivilidade no Trânsito


“Morreu na contramão atrapalhando o tráfego”. A música de Chico Buarque expõe o que já sentimos, que a rua como espaço público e igualitário, no Brasil não é de todos. Aprendemos que as ruas são de todos os iguais, mas com a ressalva de que “alguns são mais iguais que outros”. Nossa herança aristocrática nos leva a pensar que “ser visto” e “preferencial” é pra quem pode. No trânsito vale mais quem tem tamanho e marca e não aquele comum que trafega quase pedindo licença, como o ciclista e o pedestre.

A imprudência e a incivilidade no trânsito decorrem da ausência de uma visão igualitária de mundo. Em um espaço comum como as ruas, costumamos reproduzir nossos mais primitivos instintos psicológicos, como: o individualismo, a competitividade e a agressão. A situação se torna grave quando percebemos que esta conduta não amadurece conforme os anos vão passando. O fato é que há uma dificuldade imensa do brasileiro em obedecer às leis. A subordinação é tida por estes como uma inferiorização,  pois historicamente atrelamos as leis a quem deve subserviência que, no imaginário social, significa o trabalhador braçal (o escravo no Brasil imperial) As elites mandam, esquecendo-se de que quem manda também deve obediência às leis que regem a convivência social. Não é somente aumentando o número de fiscais ou reforçando a punição que resolveremos o problema do trânsito no Brasil, mas é sim criando políticas de educação para o trânsito que contemple o motorista, o pedestre, o ciclista, o motociclista, o caminhoneiro, a criança, etc. Todos nós fazemos parte deste universo.

Enquanto não compreendermos que a nossa vida é única e que dependemos uns dos outros, continuaremos a dirigir como se fôssemos donos do espaço público sem entender que aquele que “morreu atrapalhando o tráfego” era mais uma vítima de nossa insensibilidade e ignorância.



Fonte: Revista Bicicleta – Edição 018

             

Música: CONSTRUÇÃO – Chico Buarque




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